sábado, 1 de agosto de 2009

O VÍCIO (Luiz Fernando Veríssimo)

Depoimento emocionado de Luiz Fernando Veríssimo sobre
sua Experiência com as drogas.
Tudo começou quando eu tinha 14 anos e um amigo chegou
com aquele papo de "experimenta, depois quando você
quiser e só parar..."e eu fui na dele.
Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era
de "raiz", da terra, que não fazia mal, e me deu um
inofensivo disco do Chitãozinho e Xororó e em seguida
um do Leandro e Leonardo. Achei legal, uma coisa bem
brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o
consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo
mundo de "amigo" e acabei comprando pela primeira vez.
Lembro que cheguei na loja e pedi: - Me dá um Cd do
Zezé di Camargo e Luciano.
Era o princípio de tudo! Logo resolvi experimentar
algo diferente e ele me ofereceu um Cd de Axé. Ele
dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... Banda
Eva, Cheiro de Amor, Netinho, etc. Com o tempo, meu
amigo foi me oferecendo coisas piores: É o Tchan,
Companhia do pagode, Asa de Águia, e muito mais.
Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de
coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais
desafiador, que me fizesse mexer os quadris como eu
nunca havia mexido antes, então, meu amigo me deu o que
eu queria, um Cd do Harmonia do Samba. Minha bunda
passou a ser o centro da minha vida, a razão do meu
existir. Eu pensava só nesta parte do corpo, respirava
por ela, vivia por ela! Mas, depois de muito tempo de
consumo, a droga perde efeito,e você começa a querer
cada vez mais, mais e mais... Comecei a freqüentar o
submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí
que começou a minha decadência. Fui ao show e ao
encontro dos grupos Karametade e Só prá Contrariar, e
até comprei a revista Caras que tinha o Rodriguinho na
capa.
Quando dei por mim já estava com o cabelo pintado de
loiro, minha mão tinha crescido muito em função do
pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu
passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu
outra: entrei para um grupo de pagode! Enquanto vários
outros viciados cantavam uma música que não dizia
nada, eu e mais outros 12 infelizes dançávamos alguns
passinhos ensaiados, sorríamos e fazíamos sinais
combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas
Americanas e pedi a coletânea "As melhores do Molejão".
Foi terrível!!! Eu já não pensava mais!!! Meu senso
crítico havia sido dissolvido pelas rimas miseráveis e
letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado,
não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava
por vir. Cheguei ao fundo do poço, ao limiar da
condição humana, quando comecei a escutar popozudas,
bondes, tigrões, motinhas e tapinhas, eguinha pocotó...
Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido.
Quando saía a noite para as festas pedia tapas na cara
e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros
drogados, usuários das drogas mais estranhas que queriam
me mostrar o caminho das pedras... Minha fraqueza era
tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser
dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga
limpa.
Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros
amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por
mim. Meu tratamento está sendo muito duro: doses
cavalares de Rock, MPB progressivo e Blues. Mas o médico
falou que eu talvez tenha de recorrer ao Jazz e até
mesmo a Mozart e Bach.
Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as
pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os
traficantes só pensam em dinheiro. Eles não se
preocupam com a sua saúde, por isso tapam a visão para
as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não
reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto,
manobrável, consumível, descartável, distante; vai
perder as referências e definhar mentalmente. Em vez de
encher a cabeça com porcaria, pratique
esportes e na dúvida, se não puder distinguir o que é
droga ou não, faça o seguinte:
- Não ligue a TV no domingo a tarde;
- Não escute nada que venha de Goiânia, Bahia e do
interior de São Paulo;
- Não entre em carros com adesivos "Fui....";
- Se te oferecerem um Cd, procure saber se o indivíduo
foi ao programa da Hebe ou ao Sabadão do Gugu;
- Mulheres gritando histericamente é outro indício;
- Não compre um Cd que tenha mais de 6 pessoas na capa;
- Não vá a Shows em que os suspeitos façam passinhos
ensaiados;
- Não compre nenhum Cd em que a capa tenha nuvens ao
fundo;
- Não compre nenhum Cd que tenha vendido mais de um
milhão de cópias no Brasil;
- Não escute nada em que o autor não consiga uma
concordância verbal mínima.
Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos.
A vida é bela...Diga não às drogas!!!

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